Mãos na massa e olhos no futuro
Inês Ferreira
Os jovens que cumprem medida socioeducativa nos centros I e II da Fundação CASA de Sorocaba estão vivenciando uma nova experiência que poderá garantir, futuramente, um lugar no mercado de trabalho.
Graças a uma parceria com o Sinthoressor (Sindicato dos Trabalhadores de Hotéis, Bares e Restaurantes de Sorocaba e Região) eles estão participando de cursos de capacitação nas áreas de culinária e hotelaria oferecidos pelo Centro de Formação do sindicato.
A farinha grudando nas mãos, o manuseio da massa, o cheirinho de temperos e a atenção do professor Marco Aurélio Penteado prende a atenção de 8 garotos, numa tarde chuvosa de quinta-feira. Em volta da mesa principal da cozinha-escola eles aprendem como fazer os mais variados salgadinhos.
Esta é apenas uma das aulas que eles terão pela frente. O centro oferece variados cursos rápidos de qualificação profissional. A escola fica na Vila Hortência é destinada a trabalhadores e os jovens da unidade tem aulas específicas e horários reservados apenas para eles.
Segundo o presidente do Sinthoressor, Cícero Lourenço Pereira é gratificante poder contribuir com a formação profissional de jovens que tiveram a liberdade interrompida.
“Eles precisam de uma oportunidade para que quando deixarem a unidade possam encontrar um lugar no mercado de trabalho”, afirma o presidente.
Segundo Cícero a parceria também permite que o sindicato cumpra seu papel social e contribua com a diminuição da violência na sociedade.
“Se conseguirmos mostrar um novo caminho para esses jovens, por meio do trabalho, estaremos contribuindo para que eles não voltem a cometer delitos e ajudando a construir um futuro longe da violência”, disse Cícero.
Acostumados com outra realidade, muito diferente do ambiente de uma cozinha, durante as aulas os jovens se mostraram receptivos e com vontade de aprender.
“É uma boa oportunidade para eu ter uma profissão. Nunca tinha feito isso. Mais tarde eu posso abrir um estabelecimento”, afirma um dos garotos, que tem 18 anos e há quatro meses está internado.
Outro aluno diz que quando voltar para casa vai poder cozinhar e ajudar a mãe e a avó, que são sozinhas. Ele tem 16 anos, está internado há seis meses.
“Se não tiver o que fazer eu posso fazer coxinha para vender”, disse o jovem.
No grupo de alunos tem meninos de 12 a 18 anos que cometeram os mais variados delitos, mas que ganharam o direito de frequentar o curso por causa do bom comportamento.
O professor concluí que, por se tratar de alunos com uma história de vida diferenciada, o curso também é gratificante para quem ensina.
“Estamos plantado uma sementinha. Ajudando a construir homens de boa vontade. Aqui podemos despertar novos talentos e formar grandes profissionais”, disse Penteado.
Fundação CASA
A diretora da Divisão Regional responsável pelos centros da instituição em Sorocaba, Magali Rainato, comenta que os cursos proporcionam múltiplas possibilidades para os adolescentes. “É uma forma de não só capacitar os jovens, como também oferecer a oportunidade de eles se reintegrarem, uma vez que as aulas acontecem na própria comunidade”, disse.
Além disso, ela destaca a importância da parceria entre o sindicato e a intermediação da procuradoria do Trabalho. “A articulação e a realização dos cursos só foi possível graças a Procuradoria, que promoveu o encontro entre os centros da Fundação e o Sinthoressor”
Por fim, Magali acrescenta que as aulas são um incremento ao protagonismo desses adolescentes. “Acreditamos que esses conhecimentos compartilhados nas aulas permitem que esses jovens se encaminhem no mercado de trabalho, tanto como profissionais contratados como também empreendedores”, concluiu.
A cidade de Sorocaba tem quatro centros da Fundação Casa que abrigam atualmente 273 jovens, com idades entre de 12 a 21 anos incompletos, do sexo masculino.